Narion Coelho | Foto: Joana Rei

📍 Reportagem inspirada e adaptada de conteúdo original publicado pela BBC News Brasil.


No coração do interior de Portugal, o município do Fundão, com cerca de 27 mil habitantes, tornou-se exemplo internacional de acolhimento e inclusão de imigrantes. Entre as mais de 4 mil pessoas de diferentes nacionalidades que hoje vivem na cidade, há uma história que se destaca com orgulho paranaense: a da guarapuavana Narion Coelho, de 46 anos, atualmente uma das lideranças na integração de brasileiros e estrangeiros na região.

Da insegurança à tranquilidade

Narion e sua família — o marido, engenheiro eletrônico, e os dois filhos — saiu de Curitiba para Fundão em novembro de 2021. A mudança começou com uma oportunidade profissional encontrada nas redes sociais, e em pouco tempo a documentação já estava organizada. Entre Lisboa, Porto e Fundão, a família optou pela cidade do interior, em busca de qualidade de vida.

“Aqui posso caminhar na rua com meu celular, meus filhos brincam no parquinho e vão a pé para a escola. Em Curitiba, isso era impensável, mesmo morando a 600 metros da escola”, relata Narion.

Em menos de duas semanas após a chegada, os filhos já estavam matriculados nas escolas locais. A experiência de acolhimento foi tão positiva que inspirou Narion, o marido Carlos Bastos Filho e a amiga Juliana de Paula – que atualmente vive na Holanda – a fundar a Associação de Apoio Brazuca e Amigos, voltada à orientação de imigrantes — brasileiros e de outras nacionalidades — sobre burocracias, documentos, e serviços essenciais.

“Se a gente já chega com apoio, tudo muda. Essa é a ideia: oferecer apoio real para quem está recomeçando”, afirma.

O Fundão que acolhe

Mais de 4 mil pessoas de diferentes nacionalidades vivem na cidade | Foto: Câmara Municipal

Com políticas públicas voltadas para a inovação, agricultura e inclusão social, o município viu a população se estabilizar após décadas de declínio e, ao mesmo tempo, ganhou força econômica com a chegada de imigrantes. O salário médio local gira em torno de 1.186 euros, acima do salário mínimo nacional português.

O presidente da Câmara Municipal, Paulo Fernandes, comemora o fato de 80% dos que chegam ao Fundão optarem por permanecer. “Imigrantes não são apenas bem-vindos: são essenciais para o presente e o futuro da cidade”, afirma.

A cidade conta com um moderno Centro de Migrações, que abriga refugiados, estudantes e trabalhadores temporários. O espaço oferece desde dormitórios e alimentação adaptada a diferentes culturas até cursos de formação e mediação cultural. Um dos pontos fortes do modelo fundanense é a integração rápida e humanizada: enquanto campos de refugiados em outros países demoram anos para tornar seus residentes independentes, no Fundão a média é de 11 meses.

Um espaço para todos

Além de Narion, outros brasileiros também encontraram no Fundão uma nova vida. Casos como o de Daniel Silva, que levou toda a família de Goiânia para viver em Alcongosta, e de Renato e Janaína Cabral, que deixaram Campinas e hoje vivem com segurança e tranquilidade, exemplificam o sucesso do modelo fundanense.

“O que nos conquistou foi a paz de espírito. Nosso filho vai de casa em casa chamando os amigos para brincar. Essa liberdade, no Brasil, a gente nunca teve”, diz Renato.

A cidade promove o intercâmbio de culturas com naturalidade: cafés, escolas, centros de saúde e parques são espaços interculturais. E, apesar de uma ou outra resistência pontual, a maioria da população vê os imigrantes com bons olhos.

“Ser fundanense é uma questão de pertencimento, não de origem. E aqui todos podem pertencer”, resume Paulo Fernandes.

Narion, referência para os novos tempos

A atuação de Narion Coelho vai além da sua loja de produtos brasileiros, o Empório CWB. Sua contribuição na integração de novos moradores e o protagonismo na formação de redes de apoio entre imigrantes fazem dela uma referência de acolhimento e solidariedade no Fundão.

“A cultura é diferente, o jeito é diferente. Mas, com respeito mútuo, a convivência se torna leve e enriquecedora para todos”, reflete Narion.

Para ela, a experiência no Fundão representa não apenas uma nova vida, mas também uma missão: “ajudar outros a recomeçar com dignidade”.

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